Ser transmontano é uma honra, mas ser Barrosão,
são duas!... Tenho muito orgulho em ser Barrosão, e afirmo-o, sem qualquer tipo
de sentimento patriótico tacanho, ou por provincianismo bairrista. Afirmo-o sim,
com a vaidade que define a terra e a identidade das suas gentes. Porém e porque “não há bela sem senão”,
de que me serve ser um Barrosão ”inchado” de orgulho e vaidade, se a pouca
gente que por cá resta, continua a viver como sempre sujeita ao abandono, ao isolamento,
ao ostrascismo e ao despovoamento?!... De que me serve esse brio, se toda essa
gente continua a perder qualidade vida de cada vez que se fecham serviços
públicos?!... De que me serve, se os custos de vida deste povo aumentam, quando
o Poder Central se exime de aqui investir em meios e vias de comunicação, e ainda
se dá ao luxo de nos querer extorquir o que por cá existe?!...
Como todos sabemos, desde a década de 60 do
século passado, que o êxodo rural continua a ser uma realidade por estas bandas,
na procura de oportunidades e de uma justa melhoria da qualidade de vida desta
gente. Hoje, quando essa realidade, quer nos países de acolhimento, quer nos meios
urbanos para onde se deslocam tem vindo a desacelerar, e quando seria fundamental
e expectável iniciar o restabelecimento do tecido social da região, o que fazem
os Governos deste país?!... À boa maneira daquilo a que nos habituou o Estado Novo,
exactamente o contrário. Ou seja: em nome daquilo a que chamam de “desígnio
nacional”, não só não protegem quem por cá está e procura resistir, como se
propõem “correr” com os mais velhos.
Sei muito bem, que os 136 vilarejos e povoados do
nosso concelho não dependem apenas das respectivas produções agrícolas, mas
conhecendo como conheço os esforços dos empreendedores da região e do próprio Município, ao procurarem desenvolver as potencialidades
dos recursos endógenos, tais como a agricultura, a criação de gado, a floresta,
o artesanato, a indústria local como turismo sustentável, a requalificação da
identidade cultural e a reutilização e a reformulação do património cultural, porque
carga de água se nos apresentam os senhores do Terreiro do Paço - qual gente
inteligente, a quererem transformar uma Terra de muita terra, embora de pouca gente,
em território mineiro, insistindo em projectos cuja conjectura é “estrangular”
o que sobra de tais lugares?!...
Como é possível que gente tão iluminada, que se
diz defender a aposta nas pessoas, e que indirectamente reconhece que a mina de
lítio em Morgade não é compatível com as suas vidas, se proponha travar um
desenvolvimento que passa pela participação activa da população do território e
assente em mecanismos de escolha e decisão, a troco de uma desadequada utilização
do espaço na procura dos cifrões?!... A questão é muito simples: é cómodo ignorar.
Provavelmente, quem deste modo pensa e age, não andará muito longe de julgar,
que a tragédia final apenas acontecerá, quando já não estiver por cá. Ou seja:
um egoísmo irresponsável e já com “barbas brancas”, que condena quer as
gerações actuais, quer irremediavelmente as vindouras. A realidade está por isso à vista: toda esta terra
e toda esta gente que continua a resistir e que nada devem ao país, vê-se agora
mais uma vez confrontada, tal como nos tempos da ditadura, com um projecto que
os enxota para o desterro, mas de consequências ainda bem mais nefastas e
graves, que farão do seu território um verdadeiro deserto. Um território, que sempre
fez das suas fraquezas força, e que do pouco que é muito, conseguiu fazer emergir
um património ainda que modesto em riquezas materiais, uma cultura rica em
tradições ancestrais que todos se empenham em perpetuar, um património imaterial
que nunca arde e que é porto de abrigo, âncora, e um amor que só o coração das gentes
que cá vivem podem explicar.
Terras, onde a natureza e o homem se confundem por
vezes com a “personalidade do granito”, por fora sisuda, forte e
resiliente; mas por dentro, dócil, acolhedora e hospitaleira. Terras tímidas e
refúgios de emoções genuínas e sensações cada vez mais raras, que não podem ser
destruídas. A “Marca Portugal”, só pode ser por isso
considerada como tal, se os grandes decisores olharem também para ela com olhos
de ver, desiquilibrando a balança do óbvio, para discriminar positivamente o
olhar sobre um território que guarda muitos dos segredos da sua identidade, é
hoje Património Agricola Mundial, e nunca o seu desdém. Se não o fizerem e teimarem
em aceitar os desígnios burlescos a que se propõem os caçadores de licenças,
estaremos então, perante o maior desastre ecológico de que há memória em Portugal.
O desafio está por isso do lado dos
Barrosões!... A Presidente do Município já deu o mote, e aos que se propõem
defender a sua terra com espirito de “Missão”, compete-lhes agora seguir
o seu exemplo. Não vale a pena andar cá com “rodriguinhos”, mesmo numa era, em que se pensa que as redes
sociais ditam o tom, e a política parece uma novela inacabável. Refiro-me neste
caso à Oposição, a quem o bom senso e a sensatez parecem estar em processo de
extinção, esquecendo que em nome do povo que a elegeu, lhe cabe também o seu
papel, em vez de andar a correr à volta da “mesa” na tentativa
desesperada de agarrar o seu próprio rabo. Bom senso e sensatez que não são
apenas virtudes, mas também uma necessidade em afirmar, “Barroso Primeiro”.
Esta, é pois a hora de os resgatar e lembrar, que a sanidade, a empatia e o
respeito mútuo são valores que nunca poderemos perder de vista.
Não há por isso volta a dar: a nossa terra não
pode ser considerada como território de oportunistas!... E não pode, porque não há um único
parecer, que dê luz verde à exploração. Barroso é uma reserva de identidade
que precisa isso sim de ser urgentemente acarinhada e “vitaminada” por
uma mentalidade reformista sim, mas nunca baseada em apostas que levam ao seu
definhamento e consequentemente à sua morte
(Texto escrito para o jornal Planalto Barrosão segundo a antiga ortografia)